Os insetos apresentam uma grande diversidade que é percebida, classificada, conhecida e utilizada de diferentes maneiras por diferentes populações humanas. Para muitos povos, os insetos são considerados como animais sagrados ou que trazem sorte; para outros, são sinônimos de medo e de aversão, ou ainda, como fontes de alimentos ou recursos terapêuticos. Considerando a relação dos seres humanos com esses animais, realizou-se um estudo etnozoológico no qual discute a percepção e a construção do domínio etnoentomológico “Inseto” pelos moradores do povoado de Mesquita, comunidade de origem quilombola pertencente ao município de Cidade Ocidental, Estado de Goiás. Os dados foram obtidos nos meses de março e abril de 2012 por meio de entrevistas abertas e semi-estruturadas registradas em um aparelho mp3 player e posteriormente transcritas. O universo amostrado foi composto por 49 mulheres e 47 homens, cujas idades variaram de 9 a 72 anos. Os entrevistados foram questionados sobre como percebiam e definiam os animais considerados como “insetos”, quais os tipos que conheciam, qual o relacionamento deles com esses animais (se já foram beneficiados ou sofreram alguma injúria) e se os utilizavam em algum recurso como alimentar, medicinal ou estético. Testes projetivos foram feitos juntamente com as entrevistas com o objetivo de registrar a topografia corporal de quatro diferentes tipos de insetos. Considerando o sistema de classificação etnozoológico dos moradores de Mesquita, o termo “inseto” é uma categoria semântica ampla que reúne animais de diferentes grupos taxonômicos não sistematicamente relacionados. Aparentemente esses animais são culturalmente percebidos e classificados como “insetos” porque geralmente são tidos como nocivos, nojentos e transmissores de doenças. A percepção dos “insetos” pelos moradores de Mesquita está relacionada principalmente à atribuição de qualidades negativas a esses animais, provocando reações de agressividade contra os mesmos assim que percebidos no ambiente. As percepções e atitudes dos moradores do povoado de Mesquita, relacionadas ao domínio semântico “inseto”, de um modo geral, podem interferir na conservação e manejo dos animais localmente percebidos e classificados como “insetos”.
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